Base bíblica - 2
Samuel 6:10-12
E não quis Davi
retirar para junto de si a arca do Senhor, à cidade de Davi; mas Davi a fez
levar à casa de Obede-Edom, o giteu. E ficou a arca do Senhor em casa de
Obede-Edom, o giteu, três meses; e abençoou o Senhor a Obede-Edom, e a toda a
sua casa. Então avisaram a Davi, dizendo: Abençoou o Senhor a casa de
Obede-Edom, e tudo quanto tem, por causa da arca de Deus; foi pois, Davi, e
trouxe a arca de Deus para cima, da casa de Obede-Edom, à cidade de Davi, com
alegria”
Raciocínio e reflexão
Uma questão que me fez pensar, é o que de fato
aconteceu na casa de Obede-Edom? O que entendeu ele que uma geração inteira de
israelitas, e até mesmo sacerdotes não entenderam?
A partir dessas questões, podemos tirar algumas
conclusões baseados nas escrituras, que por sua vez, é a palavra do próprio
DEUS.
Antes de entrarmos no episódio que narra a respeito
do que aconteceu na vida de Obede-Edom quando da estadia da arca em sua casa,
gostaria de lembrar de duas outras ocasiões anteriores a esta, onde a “arca da
aliança” esteve presente, porém, com efeitos diferentes.
De Hofni e Finéias a Obede Edom
Temos em 1Samuel 4, o episódio em que o povo de Israel
perde uma guerra para os filisteus, ocasionando na morte dos sacerdotes Hofni e
Finéias, além de terem a arca da aliança tomada pelos seus oponentes.
Segundo a narrativa bíblica, o povo de Israel foi
para a guerra contra os filisteus, e na primeira etapa tiveram cerca de quatro
mil homens mortos no campo de batalha. Com essa derrota os soldados que
retornaram para o acampamento trouxeram a notícia às autoridades de Israel que perguntaram:
”Por que o senhor deixou que os filisteus nos derrotassem? E acrescentaram: Vamos
a Siló buscar a arca da aliança do Senhor, para que Ele vá conosco e nos salve
das mãos de nossos inimigos” (1 Sm 4:3).
Vemos aqui, na declaração das autoridades
israelitas uma clara noção pagã de que a deidade está identificada com o
símbolo da sua presença, e que o favor de DEUS pode ser automaticamente obtido
mediante a manipulação desses símbolos, o que não é nenhuma coincidência com o
que vemos hoje nas igrejas, ídolos de várias matérias primas, chaves, lenços,
fronhas, alianças, miniaturas da arca da aliança, entre outras centenas de
símbolos distribuídas e comercializadas como se tivessem em si algum poder
místico.
A segunda etapa da grande derrota, é quando os
soldados israelitas voltaram para o campo de batalha contra os filisteus, acompanhados
da arca da aliança e dos sacerdotes Hofni e Finéias filhos do sacerdote Eli
como sugerira as autoridades, em 1 Samuel 4:10-11, “os filisteus lutaram e Israel foi derrotado; cada homem fugiu para sua
tenda. O massacre foi muito grande: Israel perdeu trinta mil homens de
infantaria. A arca de DEUS foi tomada, e os filhos de Eli, Hofni e Finéias,
morreram ”.
Nesta segunda etapa vemos uma tentativa frustrada
por parte dos israelitas, que até tinham razões para acreditar na relação entre
a presença de DEUS com seu povo e a arca, lembrando inclusive das várias
vitórias obtidas no passado ( Nm 10:33-36 / Js 3:3, 11, 14-17; 6:6, 12-20 ),
porém acreditavam incorretamente, que a presença do Senhor com a arca os
garantiriam automaticamente a vitória, sem que houvesse à livre decisão divina.
Outra ocasião importante, foi a estadia da arca da
aliança na casa de Abinadabe. Após os filisteus terem roubado a arca dos
israelitas, a bíblia nos mostra que eles receberam severas punições da parte de
DEUS, o que os fizeram devolve-la ao povo de Israel (1 Sm 6).
Em 1 Samuel 7:1, as escrituras dizem que a arca
devolvida fora deixada na casa de Abinadabe, aos cuidados de seu filho Eleazar,
consagrado para fim de guardá-la. Agora, algo que me é estranho, é que nada
acontece na vida de Abinadabe e de seus familiares vinculado ao fato de terem a
arca em sua casa por dezenas de anos, o que nos permite apenas sugerir qual
fora sua relação com o símbolo da presença de DEUS, nenhuma, senão o fato de
terem consigo mais um “móvel” esquecido.
A arca da aliança
Mas afinal, o que de fato simbolizava a “arca da
aliança”, vamos tentar compreender.
A arca da aliança tipifica a presença de DEUS, que segundo
1 Sm 4:4, “tem o seu trono entre os
querubins”. As descrições da tampa da arca, também conhecida como
propiciatório, continham figuras que sugeriam o trono celeste. Tinham dois querubins
de ouro maciço com a cabeça encurvada e as asas estendidas cuja sombra cobriam
o propiciatório, esses querubins parece que eram anjos que tinham acesso direto
ao Senhor e que eram utilizados para guardar e proteger sua glória e seus
interesses, eles também foram citados no livro de Ezequiel 1:5 e Apocalipse 4:6
integrando uma visão que os respectivos escritores tiveram do trono de DEUS.
A arca da aliança era um utensílio cujo significado
ultrapassava seu valor, tendo como caráter intencional apontar para além de si
mesma e tinha como marca de sua essência o caráter daquilo que representava, no
qual encontra o seu verdadeiro significado. Carl Jung diz o seguinte: “Uma
palavra ou imagem é simbólica quando implica alguma coisa além de seu
significado manifesto e imediato”. Agostinho comentou: “O sinal (símbolo) é,
portanto, toda coisa que, além da impressão que produz em nossos sentidos, faz
com que nos venha ao pensamento outra ideia distinta. É importante colocar as coisas nos seus devidos lugares, o símbolo e o que ele representa. Enquanto
esteve no tabernáculo, mais precisamente no santo dos santos ou lugar
santíssimo, apenas o sumo sacerdote tinha acesso a arca, o que acontecia
anualmente, após passar por uma série de procedimentos de purificação e santificação,
dando a ele condições de executar o ritual sagrado que resultava na
manifestação da glória de DEUS como resposta de aceite do sacrifício em perdão
aos pecados do povo. O povo não tinha acesso a arca, não havia adoração perante ela, o que poderia se transformar em idolatria ao utensílio, que não era o propósito de DEUS.
Dito isso, vamos às análises dos episódios acima
citados onde a arca é mencionada, na derrota para os filisteus e na casa de Abinadabe
levando em consideração o contexto dos fatos.
Contexto de cada período
Na derrota para os filisteus, temos uma grande
negligência por parte dos sacerdotes, que deveriam ser responsáveis por conduzir
o povo à obediência a DEUS. Hofni e Finéias, filhos do sacerdote Eli, tinham como
prática descumprir as ordens do Senhor concernente ao manuseio dos sacrifícios
que o povo realizava (1 Sm 2:13-16), além dos atos de prostituição ao se deitarem
com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação (1 Sm
2:22). Será que eles se esqueceram que o Senhor estava presente? O que vemos
aqui é a total falta de reverência diante do que a arca representava, para onde
foram todos os rituais que faziam de Israel a nação separada, as cerimônias que
antecediam o contato dos sacerdotes com a arca?
O quadro que temos desse episódio é o Sacerdote Eli
cego, o ministério sacerdotal “entregue às traças” e a nação sem direção, começando
por suas autoridades, que num ato de desespero e falta de sabedoria, manusearam
o símbolo sem relacionamento com o DEUS que ele representava, abrindo mão das
leis morais, cerimoniais e civis.
Enquanto a arca esteve na casa de Abinadabe, Israel
viveu uma realidade semelhante em relação as práticas dos sacerdotes filhos de Eli,
agora porém, com os filhos de Samuel. Joel e Abias, que apegados aos bens
materiais e prazeres se inclinaram a avareza, tomando presentes como suborno e pervertendo
a justiça deixando de cumprir leis importantes do pentateuco utilizando de má
fé (1 Sm 8:3). Essa sequência de sacerdotes corruptos e sem reverência fez com
que o povo clamasse por um rei, com desejo de se igualarem às outras nações (1 Sm
8:19-20), Israel agora passara a ser uma monarquia.
O quadro agora é o de um sacerdócio ilegítimo, uma
transição de modelo de governo, uma grande derrota ocasionando na morte do rei
Saul e sua família, a nova liderança no comando de Davi e mais uma série de
ocorrências num curto espaço de tempo, que talvez, tenham cooperado para que a
arca da aliança, representação da presença de DEUS, fosse deixada para segundo
plano, as preocupações eram outras e a tentativa de Samuel de fazer com que o
povo se voltasse para o Senhor talvez não tivera o devido efeito.
O que é muito interessante, é que mesmo com a falta
de zelo por sua presença, DEUS continuava a manifestar-se em favor do povo,
derrotando seus adversários com manifestações gloriosas (1 Sm 7:7-14),
concedendo-lhes o rei que lhe pediram (1 Sm 10:17-27), derrubando o gigante que
os afrontavam (1Sm 17:48-58), etc.
Na casa de Obede-Edom
Agora chegamos em 2 Samuel 6:10-11, a arca do Senhor
na casa de Obede-Edom.
Por isso ele (Davi) desistiu de levar a
arca do Senhor para a cidade de Davi. Em vez disso, levou-a para a casa de
Obede-Edom, de Gate. A arca do Senhor
ficou na casa dele por três meses, e o Senhor o abençoou e a toda a sua família
(2 Samuel 6:10-11).
Numa tentativa frustrada de levar a arca para
Jerusalém, Davi tendo visto a ira de DEUS ocasionando na morte do sacerdote Uzá
pelo Senhor, após tocar na arca em desobediência à instrução divina dada a Moisés
quando de sua confecção, entende que não pode continuar com o planejado, pelo
menos naquele momento, e é aí que Obede-Edom passa a integrar o contexto, ao
ser procurado por Davi a fim de que ficasse com a arca em sua casa, o que
milagrosamente, proporcionou uma grande prosperidade, chamando a atenção do
reino até chegar ao conhecimento do Rei, Davi.
“E ficou a arca do
Senhor em casa de Obede-Edom, o giteu, três meses; e abençoou o Senhor a
Obede-Edom, e a toda a sua casa. Então avisaram a Davi, dizendo: Abençoou o
Senhor a casa de Obede-Edom, e tudo quanto tem, por causa da arca de Deus; foi
pois Davi, e trouxe a arca de Deus para cima, da casa de Obede-Edom, à cidade
de Davi, com alegria (2 Samuel 6:11,12)”.
Não temos muitos relatos das ocorrências na casa de
Obede-Edom, a bíblia só nos diz que ele foi abençoado, sua casa foi abençoada
por causa da arca, creio que isso se deu pela maneira com a qual este homem a
tratou, não o utensílio em si, mas seu relacionamento com o DEUS cuja presença
ela representava. Por ser levita acredito que ele deveria conhecer o
cerimonial, fazia parte da história de sua família cada detalhe por menor que
fosse, desde a preparação, limpeza e santificação do sacerdote para achegar-se
à arca, até a aspersão do sangue dos sacrifícios a fim de obter o perdão de
DEUS.
Creio que Obede-Edom deu à arca a atenção devida,
não apenas colocando-a no melhor lugar de sua casa como tanto ouvimos nas
pregações, enfatizando a importância do utensílio, mas acima de tudo, deixando
com que o espírito Santo de DEUS o guiasse na adoração, no zelo e na
reverência, que era o que DEUS esperava daqueles que lidavam com a arca, ou
melhor, com sua presença, diferentemente do descaso para com o Senhor ou à má
conduta estabelecida com o passar dos anos pelos sacerdotes prostitutos e
corruptos.
Acredito que sua postura e adoração foi o que atraiu
o favor de DEUS, considero ainda que as bênçãos que o Senhor lhe dera, nem
também os seus descendentes aptos para o trabalho (1Cr 26:8), que era um grande
sinal da benção do Senhor naquela época, tenha sido o mais importante, se comparado
ao fato de que Obede-Edom, morador de uma casa à beira de uma estrada, talvez
um levita “inativo”, agora fora honrado com a possibilidade de acompanhar a
arca até Jerusalém, tendo como responsabilidade o privilégio de cuidar de uma
das portas do templo, possibilitando a seus descendentes permanecerem em funções
importantes cuidando do depósito de ouro, prata e utensílios (1Cr 26:15).
A melhor benção para Obede-Edom foi permanecer na presença
de DEUS, manter sua família aos pés do Senhor, afinal de contas, prosperar é
avançar em direção aos propósitos de DEUS.
Obede-Edom e os crentes
Qual a relação entre Obede-Edom e nós, quais
paralelos que podemos fazer?
1º Obede-Edom era um levita, descendente de uma das
tribos de Jacó que fora escolhida pelo próprio DEUS para determinadas funções
exclusivas, as funções sacerdotais.
“E eu, eis que
tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo o
primogênito, que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão
meus (Nm 3:12)”.
Nós também temos o privilégio de ser chamados sacerdócio
real de DEUS para uma determinada função, que é a de anunciar as virtudes de
DEUS.
“Mas vós sois a
geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que
anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz; (1 Pe 2:9)”.
2º Obede-Edom fazia parte do povo de Israel que
fora oprimido no Egito, e posteriormente, por misericórdia de DEUS, foi liberto
da escravidão para servirem somente a Ele.
“Eu sou o Senhor
teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros
deuses diante de mim (Ex 20:2,3)”.
Nós também fomos escravizados e depois chamados
para a liberdade mediante a misericórdia do Senhor.
“Vós, que em outro
tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado
misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia. Amados, peço-vos, como a
peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que
combatem contra a alma (1 Pe 2:10,11)”.
3º Por ser descendente dos meraritas filhos de
Levi, a linhagem de Obede-Edom tinha a responsabilidade de transportar e cuidar
das bases do tabernáculo (templo móvel) no deserto onde ficava a arca da
aliança que era a presença de DEUS.
“Esta, pois, será
a responsabilidade do seu cargo, segundo todo o seu ministério, na tenda da
congregação: As tábuas do tabernáculo, e os seus varais, e as suas colunas, e
as suas bases; como também as colunas do pátio em redor, e as suas bases, e as
suas estacas, e as suas cordas, com todos os seus instrumentos, e com todo o
seu ministério; e contareis os objetos que ficarão a seu cargo, nome por nome (Nm
4:31,32)”.
Nós também temos a responsabilidade de cuidar e “transportar”
o templo móvel, uma vez que nós somos o templo do Espírito Santo onde a
presença de DEUS habita.
“Ou não sabeis que
o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de
Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço;
glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais
pertencem a Deus (1 Co 6:19,20)”.
4º Obede-Edom, assim como nós pecou e destituído
estava da glória de DEUS.
“Pois quê? Somos
nós (referiu-se aos judeus) mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes
demonstramos que, tanto judeus como gregos (referiu-se aos gentios), todos
estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não
há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram,
e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só (Rm
3:9-12)”.
Poderíamos continuar com inúmeras outras citações, mas
creio ser o suficiente o que já foi descrito no conteúdo acima.
Para concluir, aprendi que temos inúmeras semelhanças
com Obede-Edom, mas o que vai fazer com que nossa vida mude é entender que
prosperar é avançar em direção aos propósitos de DEUS, vivendo em sua presença,
nos limpando “Porquanto está escrito:
Sede santos, porque eu sou santo (1 Pedro 1:16)”. Como templos do Espírito
Santo tendo sua presença em nós, precisamos ter nos corações os símbolos que
haviam dentro da arca, a obediência às leis do Senhor representada pelas tábuas
dos mandamentos, uma nova vida representada pelo cajado de Arão que floresceu,
que era seco e morto e deu frutos após o novo nascimento, e a fé em Jesus, o
pão da vida representado pelo maná, que nos supri de todas as necessidades
naturais e espirituais.
Abraço e fiquem na paz do Senhor.